Um quilo de sal



Por que muitas vezes nos sujeitamos às situações que nos causam desconforto? Será falta de personalidade em dizer não a tais situações?
Ela, por muito tempo, não sabia como agir... Segurava o desconforto. Angustiada, tentava não estourar. Mas sempre estourava, porque aquilo não fazia parte do seu universo. Ela não suportava mais o desgaste que ele provocava em sua vida. Não queria assumir que o melhor a fazer era jogar tudo para o alto e o mandar para “o raio que o parta”! Tomar uma atitude sempre é difícil, doloroso. Doloroso para quem toma a atitude, doloroso para quem toma o pé na bunda.
Mas quando a situação é insustentável não se tem muita escolha. Mudar é quase impossível. O mundo se tornou muito individualista, ninguém quer ceder, ninguém quer perder. Nesse grande jogo as regras não são claras, e o coração sempre sai ferido.
O que mais impressiona os sentimentos dela é a falta de sentimentos dele. Ele não tem caráter, não sabe que mentir compulsivamente é uma patologia.
Ela, as vezes estando com ele é triste (mesmo ele afirmando que nunca faz por mal). Está cansada de ouvir que ele é imaturo, parece que todos tentam encobrir o desvio de caráter dele. Ela tenta enxergar coisas boas. Mas as ruins acabam se sobressaindo em alguns momentos.
O que ela pode fazer? Qual atitude tomar em relação a ele?
Seria melhor dar um fim em tudo, seria o mais ajustado, o mais racional. Mas ela sofre, com as coisas do coração não há razão, não “rola” teorizar muito. É paixão, sentimento instintivo, bem-querer. O racional não se aplica ao amor.
A felicidade existe entre eles, apesar de não ser constante, mas o que é constante? O que é certo ou errado? Quem é dono da verdade absoluta para afirmar ou negar com certeza plena? Eles deveriam ser mais unidos em meio a esse mundo de desunião. Eles são jovens – e alguns podem até dizer – que são inexperientes. Mas eles têm esperança em um dia morarem juntos. Acreditam profundamente que a culpa da desunião é a diferença geográfica.
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(Só mais uma taça de vinho, já estou terminando essa história, que pode ser minha como pode ser sua).
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Ela é astuta, ele é de touro. Ele não tem regras, ela é metódica. Ambos são geniosos. E nenhum gosta de café. Mas acreditam que combinam na diferença. O relacionamento é como uma relógio analógico, você tem que conseguir acertar os ponteiros, apesar deles não serem iguais, eles tem que caminhar juntos (tanto os ponteiros como o relacionamento). Ou como um amigo cearense me disse uma vez: “manter um relacionamento é comer um quilo de sal junto!”.
O ser humano é um ser social, por natureza vive em comunidades se relacionando, sempre. Aí notamos como é antinatural o homem querer se individualizar cada vez mais, se isolar, e ficar sem uma parceira, ou parceiro. O caminho é o da compreensão, da tolerância, da partilha, da amizade sincera. Sim, amizade! Porque não existe um relacionamento amoroso sem você ser amiga (o) do seu amado (a). Enfim, companheirismo no sentido pleno da palavra.
Mais uma coisa eu soube por ai, resumindo toda esta história... Ela o ama, e ele a ama também. Morrem de saudades e de ciúmes. Outro dia me falaram que eles planejam se ver, sempre que possível, e continuar juntos.

**Ju
Professora universitária e mestre em filosofia pela UNESP-Marília

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